Gostaria de abordar um tema que tem sido fonte de tremendos mal entendidos, o tema da Psicologia Positiva.
O feito do pensamento positivo é um fenómeno psíquico de grande complexidade. Não é algo que dependa da nossa vontade e desejo, mas sim de um consistente processo mental que produz a consequência de termos a tendência para sermos mais otimistas ou pessimistas.
Assim, não é por repetirmos ao espelho, ou num fim de semana de retiro espiritual, que temos de pensar positivo que isso vai acontecer. Atenção, esse tipo de abordagens, que não têm em conta as causas de sermos otimistas ou pessimistas, podem ser perigosas, uma vez que induzem em erro e, potencialmente, promovem mais dissociação mental.
A saúde mental depende, fundamentalmente, de termos suficiente espaço mental para lidarmos com todas as emoções e pensamentos que existem no nosso psiquismo. Saúde mental não é pensar positivo! Saúde mental é termos a liberdade e capacidade para estarmos tristes quando efectivamente estamos e a capacidade para o entusiasmo a alegria em outros momentos.
Para sermos optimistas, é necessário:
1- sabermos o que é que nos entristece
2-sabermos o que é que nos provoca ódio e raiva
3- estabelecermos contacto sentido com essas emoções
4- compreendermos quais os fenómenos que tendencialmente nos levam a sentir tais emoções
5-fazer um trabalhoso luto em relação a todas as “coisas” que desejámos que fossem de outra forma, mas não são
6-saber o que nos entusiasma, apaixona, nos faz sentir mais vivos
7-manter contato interno com ambas as dimensões, as da tristeza e as da felicidade
É da integração da tristeza, decepções, frustrações, ódio, raiva com o entusiasmo, alegria, desejo e realizações, e do lidar com todas estas realidades internas de forma não deprimida, que surge o pensamento positivo, ou seja, a esperança, a tendência a atribuir mais valor ao que há e atribuir menos valor ao que não há.